Crônicas do dia-a-dia louco e insano que passamos correndo sempre, sem sequer olhar profundamente para si mesmo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ônibus

O som rolava infinitamente alto em suas orelhas, pensava apenas em chegar em casa e descansar. O ônibus não chegava nunca, estava no ponto no mínimo uma meia hora e estava começando a pensar em ir a pé ou chamar seu pai, que a muito contra gosto viria buscá-lo.
Chegou o ônibus, subiu, pagou sua passagem e se dirigiu ao fundo do ônibus como de costume. Como sempre o ônibus estava um pouco cheio, mas ele conseguiu um lugar no fundo para se sentar. Continuava a ouvir a música alta, era algum rock underground - "Well, everytime I feel you're coming round, you're going down/ You hit the ground with every force, it makes no sense or sound /God bless your soul girl/ Now you got the whole world/ I'm on my way now /I'll get there somehow..." - quando percebeu um rapaz. O rapaz usava um jeans já surrado pelo tempo, uma camiseta branca justa mas ao mesmo tempo larga no corpo esbelto, um camisa de flanela vermelha, um boné meio desgastado como a calça, tênis brancos e também ouvia música pelos seus fones. Parou próximo. Olhando admirado pela beleza iminente do novo passageiro, conseguiu até mesmo sentir o perfume dele, misturado ao suor da sua pele. Pele branca. Pele clara. Pele fácil de marcar. Marcava as veias sinuosas dos seus braços, com mãos grandes e bonitas, com dedos fortes e cheios de anéis. O rapaz então olhou. Viu que era observado, mas pela incerteza de seus olhos castanhos claros, demonstrava que ainda não entendia o porque de ser o observado. Viu o restante do rosto do rapaz. Sua barba clara por fazer, as poucas mexas que o boné deixava mostrar na testa.
Se iniciou então uma dança de olhares de desejos compulsivos.
Imagens dançavam eternamente em suas mentes, pode sentir o toque do rapaz por seu corpo, caminhando lentamente até o início de seu sexo, pode sentir o aroma de seu hálito, o cheiro doce e seco que saia de seu cabelo, se sentiu cada vez mais excitado, a ponto de consumir sua ânsia de desejo e volúpia ali mesmo, em um sujo e cheio ônibus.
O rapaz se aproximou, tirou seus fones, tirou os outros fones e disse:
- Me chame de seu.
Em resposta:
- Não, te chamo de meu, e tu também me chamarás assim.
Se olharam durante todo o percurso, sem trocar nenhuma palavra aos olhos dos outros. Mas entre olhares de desejos e carne, os amantes se conheciam mais e mais. Desceram algumas quadras de distante da casa do primeiro. Entram em uma casa pequena no fim de uma rua cheia. O cheiro de casa diferente, que sempre era uma impressão esquisita de se sentir, não era diferença agora, porque nesse momento os corpos que antes estavam em pura tensão sem saber o que fazer, agora ensinavam um ao outro aonde tocar, aonde sentir, aonde beijar, aonde cheirar, aonde arranhar, aonde lamber, aonde chupar, aonde apertar, aonde....
Dois corpos unidos. A sensação de prazer, paixão, de carne na carne....
O ápice estava próximo os dois sabiam, mas ao mesmo tempo, não queriam.
Ficaram assim durante horas incontáveis, insaciáveis... Até o orgasmo.
Dois cigarros.
Dois cafés.
Dois corpos suados e gozados, sentados em uma cama.
O rapaz diz:
- Acho que quero te chamar de meu pra sempre.
Em resposta:
- Acho que quero te ter pra sempre.
Beijos...
Beijos...
Beijos...

Qual é o seu nome?

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